Mudança de percepção
Queria falar da questão da escola, de como alguns mudaram. [...] A gente teve mais dificuldade com a diversidade de gênero. Debater também a divisão sexual do trabalho, questionar. [...] Então, pra nós, assim, foi muito interessante poder tá debatendo. [...] Você não ensina ninguém a ser, a gente não opina nas nossas escolhas, [a orientação sexual] é uma coisa que vem de lá do útero da mãe. [...] Você vai conversando e as pessoas vão dizendo que é porque optamos. A gente não opta por ser humilhado, por ser xingado, por ser apedrejado, por sofrer violência. Ninguém escolhe. [...] A gente também aprendeu que é diferente o feminismo do machismo. Mas, há também quem acredite que o feminismo é para a mulher se achar melhor que o homem. Não conhece, não sabe e a pessoa fica falando.
É bem interessante você estar debatendo isso na escola. A gente vai se preparando para o mundo na escola. A gente fica muito triste que não tenha em outras escolas. As pessoas ficam tão alienadas ali. É muito triste você chegar para uma pessoa e ela diz: 'Eu aceito, mas a pessoa não precisa ficar fazendo showzinho na rua'; que é andar de mão dada. Se um homem não pode andar de mão dada com outro homem e mulher com mulher. Devia ter direitos iguais, né. Fala-se de direitos iguais, mas, na prática, o que a gente faz? É difícil para a gente debater toda essa questão de gênero. Desde a família, sorte que a minha família nunca foi assim. Eu convivi com uma pessoa que era muito amigo da minha irmã, ele era homossexual.
Pra mim foi interessante participar desse debate de gênero. Algumas pessoas criticaram, a gente foi e explicou. 'Nossa, é isso mesmo?' 'Nossa, como eu era tão bobinha, tão bobinho', as pessoas ficam assim. Não conhecem realmente. A mãe e o pai não falam. É triste ver que outras escolas, outras pessoas não têm acesso a isso. Eu acho que o grande passo da escola é valorizar isso que estamos tendo [os workshops]. E eu espero que continue.
Depoimento de Estudante do Ensino Médio
Colégio Estadual do Campo Contestado – Lapa – Paraná.
Seminário: 24 a 26 de novembro de 2016.
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